segunda-feira, 7 de maio de 2012

fica ∞


«Ele: Boa noite, pequena.
Ela: Boa noite.
(Silêncio.)
Ele: Já dormes?
Ela: Estou quase. Porquê?
Ele: Nada.
(Silêncio de novo.)
Ele: Pequena?
Ela: Fala.
Ele: Sabias que foste a melhor coisa que já me aconteceu?
Ela: Ah, obrigada.
Silêncio de novo
Ele: Ainda estás acordada?
Ela: SIM, PÁ. FALA LOGO.
Ele: Nada, esquece.
Ela: PORRA, ALÉM DE NÃO ME DEIXARES  DORMIR, AINDA É POR NADA. BOA NOITE.

Ela dorme e ele começa a rabiscar algumas palavras em um pedaço de papel enquanto uma lágrima escorre do seu rosto.

Ela acorda, vê o lado da cama vazio e um bilhete, parcialmente molhado.

"Bom dia, meu anjo. Dormiste bem? Espero que sim. Peço desculpas por ontem à noite, mas eu precisava ouvir a tua voz antes de dormir. E hoje saí logo cedo, para uma última caminhada no parque. Lembraste de que eu disse que fui ao médico há 6 anos, antes de nos conhecermos e ele diagnosticou cancro de laringe? Então, era verdade. Mas o que não te disse é que ele disse que eu tinha 6 anos de vida apenas. E lembraste na semana passada quando eu fui ao médico a  tossir muito? Ele disse que eu não passava desta noite. E lembraste  que  acordaste várias vezes a semana toda comigo a tossir e a cuspir sangue? Pois é. Era meu corpo a avisar que eu estava no fim. Mas não te queria assustar. Antes de eu partir, espalhei pela casa algumas surpresas. Quero que tires o dia para encontrá-las. Te amo, meu amor. Para sempre".

Com lágrimas nos olhos, ela desce a escada, que estava coberta de margaridas, a sua flor favorita. Chegando à sala, um cachorrinho com um lacinho no pescoço dormia no sofá. Havia um bilhete: "Sempre quisemos um filho,  lembraste? Aqui está.". Ela fez festinhas  nele e foi à cozinha, a chorar. Uma mesa com o pequeno-almoço: pães, patês, geleias, sumos, frutas, café... E uma fotografia dele na outra ponta da mesa, onde ele se costumava sentar. Um bilhete: "Toma o pequeno-almoço comigo.". Depois ela caminhou para o jardim. No banco onde eles se costumavam sentar a ver o pôr do sol, estava uma caixinha. Dentro, uma aliança que dizia "Sempre teu". »



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